Em diversas religiões primitivas,
a decapitação derivava de um ritual e de uma crença:
a cabeça é a sede do espírito.
Há que preservá-la ou destruí-la,
segundo ela pertença a amigo ou inimigo.
Os celtas, tanto na Irlanda quanto no continente,
cortavam a cabeça ao inimigo vencido em combate singular.
Esse costume tem base religiosa,
uma vez que, segundo o deus-médico, Diancecht,
a ressurreição ou a cura são sempre possíveis
desde que os orgãos essenciais
(cérebro, medula, membranas do cérebro)
não tenham sido afetados.
As cabeças decepadas eram conservadas como troféus
de guerra e sofriam um tratamento para esse fim.
Podia-se conservar apenas uma parte.
Um texto irlandês fala da língua,
outro menciona um cérebro misturado com argila
e modelado como bola de jogar.
Tito Lívio conta que o crânio do cônsul Postumius,
derrotado pelos gauleses cisalpinos,
foi levado com grande pompa
para o seu templo principal, onde,
guarnecido de metal precioso,
serviu de cálice no culto.
Esses costumes são encontrados, comprovadamente,
em todas as partes doi mundo,
desde as famosas tsanta, ou cabeças reduzidas,
dos índios Jivaro do Equador
até os crânios modelados da Oceania.
Os Bamum dos Camarões degolavam os inimigos
mortos em combate e conservavam deles
apenas os maxilares inferiores.
Esses troféus eram empregados de diversas maneiras.
Serviam, inclusive, para ornamentar o gargalo
das cabeças cerimoniais em que se servia
vinho de palmeira na corte de Foumban.
_Ogam-Tradition Celtique
Rennes 1948