O Sr Assis Iglésias ouviu em Caxias, Maranhão,
em fevereiro de 1919, o cego Raimundo Leão de Sales
entoando a cantiga original,
e para mim única na espécie,
o traje feito de alimentos,aprendida com um cearense ,
também cego:
MANDEI FAZÊ UM LIFORME
BEM FEITO, COM PERFEIÇÃO
MODE BOTÁ NA CIDADE
NO DIA DE UMA ENLEIÇÃO,
E O QUAL ADMIRÔ
A TODA POPULAÇÃO
O CHAPÉU DE ARROZ DOCE,
FORRADO DE TAPIOCA,
AS FITAS DE ALFENIN
E AS FIVELAS DE PAÇOCA
E A CAMISA DE NATA
E OS BOTÔES DE PIPÓCA
A CEROLA DE SORO
E A CALÇA DE COALHADA,
O CINTURÃO DE MANTÊGA
E O BROCHE DE CARNE ASSADA
O SAPATO DE PIRÃO
E AS BIQUEIRAS DE COCÁDA
AS MEIAS DE MINGÁU
E OS VÉUS DE GERGELIM,
E AS ÁSPAS DE PÃO DE LÓ
E O ANELÃO DE BULIM,
AS FITAS DE GORDURA
E AS LUVAS DE TOICIM.
O COLETE DE BANANA
O FRAQUE DE CARNE FRITA,
O LENÇO DE MARMÊ
E O LEQUE DE CAMBICA
O COLARIM DE BOLACHA
E A GRAVATA DE TRIPA.
O RELÓGIO DE QUEIJO,
A CHAVE DE RAPADURA,
A CAÇULETA DE DOCE
E O TRANCELIM DE GORDURA
QUEM TEM UM LINFORME DESTE
PODE JULGAR-SE EM FARTURA.
Do Livro "O Dicionário do Folclore Brasileiro".
12ª EDIÇÃO
LUIS DA CÂMARA CASCUDO