"Adeus, um longo adeus a toda a minha
grandeza. Esse é o destino de todo homem:
hoje lhe nascem as folhinhas tenras
da esperança
amanhã ele floresce,
carregado ficando de honrarias.
Mas no terceiro dia vem a geada,
uma geada mortal, e no momento
preciso em que ele - quão simplório e calmo ! -
crê que sua grandeza está madura,
ela a raiz lhe morde, caindo ele
tal como agora eu caio.
Aventurei-me,
como crianças que nadam com bexigas,
durante estios vários num oceano
de glórias, mas profundo em demasia.
Minha vaidade inflando-se ao extremo,
arrebentou sob mim, ora deixando-me
cansado e envelhecido no serviço,
ao sabor de uma rude correnteza
que para sempre acabará tragando-me.
Glórias vãs deste mundo, pompas fúteis,
tenho-vos ódio !
O coração se me abre
a novos sentimentos.
Triste a sorte
de quem depende do favor dos príncipes !
Entre o sorriso a que ele aspira tanto,
o aspecto prazenteiro do monarca
e sua ruína, há mais angústia e medo
do que na guerra ocorre ou nas mulheres.
E quando a queda vem, quem cai é Lúcifer,
privado de esperança."
SHAKESPEARE
Henrique VIII - Ato III