Personagem principal de "A Náusea"(1938),
primeiro romance do escritor e filósofo francês
Jean-Paul Sartre (1905-1980), Antoine Roquetin
é o narrador do relato, escrito em forma de diário,
no qual trata da sua existência.
Professor de filosofia na cidade de Havre,
Sartre inventou Bouville, cidade portuária,
com rio e biblioteca,
no qual se instala seu personagem Roquetin,
com cerca de 30 anos de idade,
que realiza uma pesquiza, a fim de escrever
a biografia de uma antigo notável do local.
Introspectívo, Roquetin vive voltado para si mesmo;
e assim vai pouco a pouco avamçando na experiência
da náusea, esse conjunto de sensações desagradáveis,
que levam ao completo mal estar:
a relação com os objetos, com os outros, consigo mesmo
passa a ocorrer sob o signo da estranheza,
do enjôo e da inquietude.
Roquetin não consegue terminar seu trabalho
desprovido de interesse:
após o fracasso de um namoro com Anny,
vai embora de Bouville.
Mas o fracasso não é total,
pois Roquetin sente desejo de consagrar-se à escrita
literária.
Este romance, inicialmente intitulado Melancolia,
traz à luz uma noção muito importante no século XX:
a do absurdo.
Leitor de Kafka, dos romancistas americanos e dos
filósofos alemães Husserl e Heidegger,
Sartre quis pensar o absurdo, a angústia e a existência
dando vida a personagens.
Filósofo, ele pretendeu tornar os conceitos sensíveis e
legíveis, encarnando-os em criaturas de tinta e papel.
Daí por que Roquetin registra diariamente suas
experiências; o leitor compreende, juntamente com o
personagem e através dele, a nossa dificuldade de existir.
E compreende, ainda, que o ódio e o desgosto
de existir também são maneiras de me fazer existir,
de me afundar na existência.
A sátira social junta-se o propósito filosófico:
Bouville ( cidade do barro e dos bois)
é pintada com ironia, e Roquetin observa a mediocridade
dos burgueses satisfeitos, esses "patifes".
Personagem literário a serviço da reflexão filosófica,
Roquetin mostra-se, no entanto, atraente para o leitor:
é um anti-herói que não age, mas existe.
Eu existo.
Isso é doce, muito doce, muito lento.
Nada acontece a Roquetin, a não ser a vida, ou seja,
o surgimento banal e no entanto surpreendente,
do cotidiano.
Romance de uma conciência e de uma crise, A náusea
traz à cena um personagem que pensa existir:
Sartre, teórico do existencialismo ateu,
terminou sua busca do sentido da existência
com a narrativa testamento Les Mots (As palavras, 1964.)
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