Há algumas dificuldades lógicas na noçao de pecado.
Dizem-nos que o Pecado consiste na desobediência dos
mandamentos de Deus -- mas também nos dizem
que Deus é onipotente.
Se Êle o é, nada que seja contrário à sua vontade poderá ocorrer.,
portanto, quando o pecador desobedece os Seus mandamentos,
Ele deve ter tido a intenção de que tal acontecesse.
Santo agostinho aceita, arrojadamente, esta opinião,
afirmando que os homens são levados ao pecado
devido a uma cegueira com que Deus os aflige.
Mas a maioria dos teólogos, na época moderna,
tem achado que, se Deus permite que os homens pequem,
não é justo enviá-los ao inferno por uma coisa que
eles não podem evitar.
Dizem-nos que o pecado consiste de se agir de maneira
contrária à vontade de Deus.
Isto porém não afasta a dificuldade.
Aqueles que, como Spinoza, aceitam seriamente a onipotencia de Deus,
deduzem que não pode existir isso que se chama pecado.
Isto conduz a resultados terríveis.
Que é que está dizendo !, exclamavam os
contemporâneos de Spinoza.
Então não foi um mal Nero haver assassinado a mãe ?
Não foi um mal Adão haver comido a maçã ?
Então uma ação é tão boa quanto a outra ?
Spinoza mexe-se, mas não encontra nenhuma resposta satisfatória.
Se tudo acontece de acordo com a vontade de Deus,
Deus deve ter desejado que Nero assassinasse a mãe;
portanto já que Deus é bom, tal assassínio deve ter sido
uma coisa boa.
Dêste argumento não há escapatória.
Bertrand Russel ( 1872-1970) filósofo inglês
Unpopular Essays pag 104
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