A objeção mais comum ao controle da natalidade é a de que
é contra "a natureza".
(Por certa razão não nos permitem dizer que o celibato é contra
a natureza; a única coisa que me ocorre é que não se trata
de uma coisa nova).
Thomas Robert Malthus (1766-1834) viu apenas 3 maneiras
de evitar-se o aumento da população:
- a continência moral
- o vício
-e a miséria.
A continência moral, admitia êle, não tinha probabilidade
de ser praticada em grande escala.
O "vício", isto é, o controle da natalidade, êle, como clérigo,
encarava com aversão.
Restava a miséria.
Em seu confortável presbitério,
encarava êle com equanimidade a miséria da grande maioria
da humanidade, ressaltando a falácia dos reformadores
que tinham a esperança de aliviá-la.
Os modernos oponentes teológicos do controle da natalidade
são menos honestos.
Pretendem êles que Deus proverá,
seja qual for o número de bôcas que haja para alimentar.
Ignoram o fato de Êle jamais ter feito isso até agora, tendo,
ao contrário, deixado a humanidade exposta a fomes periódicas,
durante as quais milhões de criaturas morreram por não ter
mais o que comer.
Devem êles estar condenados a afirmar
-se é que estão afirmando coisas em que acreditam-
que, doravante, Deus realizará um milagre contínuo de
multiplicação de pães e de peixes que êle
até aqui julgou desnecessário.
Ou talvez digam que o sofrimento aqui embaixo
não tem importância alguma;
o que importa é o que virá depois.
Devido à sua própria teologia, a maioria das crianças,
que a sua oposição ao controle da natalidade fará nascer,
irá para o inferno.
Devemos supor, pois, que êles se opõem a melhoria da vida
na terra, por julgar uma boa coisa o fato de milhões de pessoas
terem de sofrer tormento eterno.
Comparado a êles, Malthus parece-nos misericordioso.
Bertrand Russel (1872-1970) filósofo inglês
Ensaios Impopulares - 1956 - Companhia Editora Nacional Pags 128/129
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