A grandeza e a sublimidade da poesia
está em que ela repele o concurso
ácido e esterilizante das coisas;
ela é, toda ela, sonho e emoção;
- emoção e sonho que para os outros
desmaiam, esvaecem-se,
ao primeiro sôpro da vida,
mas que para o poeta,
na agonia do poeta,
por um mistério veemente e súbito,
petrificam-se tomadas pela surpresa
tempestuosa do ritmo que age
como um estranho cataclisma.
Então, tais coisas vãs e fluídas
coagulam-se em formas êneas e marmóreas.
Das paixões que para nós outros são aéreas,
intangíveis e fugazes, eles, os poetas,
fazem catedrais góticas,
cheias de música,
complicadas e imorredouras.
João Ribeiro (1860-1934) Poeta e jornalista brasileiro
Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras 30/11/1898
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