Se o homem é o rei da criação,
o cavalo serve-lhe de trono.
Veículo e arma ao mesmo tempo,
êle nos suprime as distâncias pela rapidez,
e centuplica nossas forças.
Para o gaúcho,
especialmente para o filho errante da campanha,
esse vínculo se estreita.
O peixe carece d'água,
o pássaro do ambiente,
para que se movam e existam.
Como eles, o gaúcho tem um elemento,
que é o cavalo.
A pé está em sêco, faltam-lhe as asas.
Não se realiza o mito da antiguidade:
o homem não passa de um busto apenas;
seu corpo consiste no bruto.
Uni as duas naturezas incompletas;
este ser híbrido é o gaúcho,
o centauro das Américas.
José de Alencar (1829-1877)
O Gaúcho, Livro I, capítulo VII
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