(Sobre a receptividade de sua peça
"Perdoa-me por me traíres.")
Do primeiro para o segundo ato, aplausos.
Do segundo para o terceiro, aplausos.
Ao final do terceiro, o último,
uma vaia violentíssima.
Senhoras grã-finérrimas subiam nas cadeiras
e assoviavam feito apaches.
Meu texto não dizia um único palavrão.
Quem dizia palavrões era a platéia.
No camarote, o vereador Wilson Leite Passos
puxou um revólver.
Como um Tom Mix, queria, decerto,
fuzilar o meu texto.
Eu, um simples autor dramático,
fui tratado como em filme de bangue-bangue
se trata ladrão de cavalos.
A platéia só faltou me enforcar
num galho de árvore.
NELSON RODRIGUES(1912-1980)
Autor, jornalista, escritor
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