Se os primeiros colonos da América Inglesa
vinham movidos pelo afã de construir,
vencendo o rigor de selva e deserto,
uma comunidade abençoada,
isenta das opressões religiosas e civis
por eles padecidas em sua terra de origem,
e onde enfim se realizaria o
puro ideal evangélico,
os da América Latina se deixavam atrair
pela esperança de achar em suas conquistas
um paraíso feito de riqueza mundanal
e beatitude celeste,
que a eles se oferecia sem reclamar
labor maior,
mas sim como dom gratuito.
Não há, neste último caso,
contradição necessária entre o gosto
da pecúnia e a devoção cristã.
Um e outra, em verdade,
se irmanam frequentemente e se confumdem:
já Cristovão Colombo exprimira isto
ao dizer que com o ouro tudo se pode
fazer neste mundo,
e ainda se mandam almas ao céu.
SERGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902-1982)
Sociólogo e historiador brasileiro.
Visão do Paraíso, São Paulo, 1992, pag. 17
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