quarta-feira, 26 de maio de 2010

INQUISIÇÃO E REVOLTA DO ESPÍRITO

Era previsível que os excessos da Inquisição levassem
a revoltas e motins coletivos, em reação contra os
grilhões espirituais e materiais que a Igreja fazia
pesarem sobre a Europa.
O sinal mais antigo destas manifestações data de 1237:
a cidade de Erfurt foi testemunha deste fenômeno estranho:
crianças, em número de uma centena,
eram tomadas de um mal inexplicável,
enquanto se dirigiam  em procissão até Arnstatdt.
Caindo por terra em dezenas, quase todas sucumbiram...
A 17 de junho de 1278, desta vez em Utrecht,
mais de duzentas pessoas começaram a dançar loucamente
sobre uma ponte: a obra não tarda a sucumbir sob o peso,
e todos os possuídos se afogam.
Abate-se então sobre a Europa inteira este mal nascido
das privações e das angústias,
mas também da implacável direção que o clero
fazia reinar sobre os corpos e as almas.
Suicídios coletivos, êxtases místicos, danças,
marcando ressurgências pagãs...protestos de infelizes
diante da misperia, das incertezas do tempo e dos
excessos da Igreja.
O papa havia sentido bem o perigo cismático representado
por esses "elementos sem controle";
alguns falavam de uma carta celeste que os colocaria acima
da autoridade do soberano pontífice.
A ameaça latente de ver este movimento se unir a um
esoterismo gnóstico eram muito graves para que a Igreja
não procurasse se livrar o mais rapidamente possível
desses incômodos que lhe feriam a conciência.
Sob a acusação de heresia, de feitiçaria e de outras
práticas demoníacas, o Poder temporal recebeu a injunção
e o apoio das autoridades eclesiásticas para reduzir essa
"rebelião de espírito" que ameaçava ao mesmo tempo
a ordem estabelecida.
Na Alemanha, no decorrer dos séculos XVI e XVII,
foram queimados mágicos e feiticeiras aos milhares.
Assistiu-se ao desenvolvimento de uma verdadeira psicose
coletiva, encorajada pela Inquisição e por todos os
desviados mentais que compunham seu cortejo.
Entretanto as seitas cismáticas e heréticas,
longe de desaparecerem diante das perseguições,
multiplicavam-se, procurando soluções cada vez
mais radicais...

Jean Angebert  e Michel Angebert
O Livro das Tradições 1975


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